quinta-feira, 21 de junho de 2012

Acordes


Violão, meu violão,
em tuas cordas me derramo,
em tuas curvas me debruço
sem te ver a obviedade da metáfora feminina,
lugar comum que anda com tantos,
mas comigo não, Violão.
Teus volteios são pra mim
como as estradas por que passo;
cada curva de caminho
é um acorde que me desperta humano.
As tuas cordas tão retas-paralelas
se encontram sob a pressão de meus dedos,
mas sei que sou eu que me encontro nelas.
O teu punho e o teu braço
trazem a força dos sons diversos
e no reverso de tantas casas,
quanta beleza ainda jaz adormecida,
quanta verdade ressoa de tua boca,
esse buraco negro que atrai tudo,
mas que derrama e espalha a luz.
Já andaram me perguntando
do que é que você é feito,
se de pinho, de mogno, se de jacarandá
se de algumas madeiras nobres,
mas eu respondo que nobre mesmo
é você ser feito de música.
E digo sem nenhum exagero
que aquele símbolo do Moebius
com que trançam o infinito
é o teu corpo, violão,
encaixado e tocado nos braços de Deus.

2 comentários:

  1. Belo poema Glaucio! Gostei muito do blog.

    :)

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  2. Nossa! Que honra receber um comentário de um dos mestres da lutheria brasileira!
    Obrigado Garrido!

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